In photography’s early years, photographs were expected to be idealized images. This is still the aim of most amateur photographers, for whom a beautiful photograph is a photograph of something beautiful, like a woman, a sunset. In 1915 Edward Steichen photographed a milk bottle on a tenement fire escape, an early example of a quite different idea of the beautiful photograph. And since the 1920’s, ambitious professionals, those whose work gets into museums, have steadily drifted away from lyrical subjects, conscientiously exploring plain, tawdry, or even vapid material. In more recent decades, photography has succeeded in somewhat revising, for everybody, the definitions of what is beautiful and ugly – along the lines that Whitman had proposed. If (in Whitman’s words) “each precise object or condition or combination or process exhibits a beauty” it becomes superficial to single out some things as beautiful and others as not.(…)
To photograph is to confer importance. There is probably no subject that cannot be beautified; moreover, there is no way to suppress the tendency inherent in all photographs to accord value to their subjects.Susan Sontag, On Photography (© Penguin Classics 1977)
Back when i started out, if you were a concerned nature photographer, it meant you celebrated the beauty of the wilderness. That’s fine, it’s meritorious – but it misses a huge point. Robert Adams was a big inspiration; he helped me realize that the intersection of humans and nature is a very nuanced and complex place. So that’s been my focus.
James Balog entrevistado por Fred Ritchin na Aperture 198 (© Aperture 2010)
Após a publicação do meu texto anterior ‘natureza, a influência contemporânea hoje‘ as reacções não se fizeram esperar sendo de facto a mais surpreendente para mim a do Daniel Carrapa no seu blogue ‘a barriga de um arquitecto’. Surpreendente pelo facto de ter sido inesperada, apenas só isso. Agradeço ao Daniel o seu ponto de vista e a forma eloquente como o expressou.
As citações que iniciam o texto são talvez (e a segunda é tão recente que apenas me chegou às mãos depois da escrita do artigo anterior) uma expressão concreta do meu ponto de vista e que apenas exprime o desejo – simples na sua organização mental mas de difícil materialização – de ver uma ‘nova’ visão fotográfica da natureza, focada em questionar os pontos de contacto entre natureza e humanos, subtis ou não, remotos ou próximos no espaço e no tempo. Talvez estas citações exprimam de forma mais ‘correcta’ (se é que se pode classificar um ponto de vista subjectivo como correcto) a minha tentativa de questionar a fotografia de natureza e a forma como a percepcionamos à luz da actualidade.
Mas cada acto de criação fotográfica está à partida ‘contaminado’ pelo próprio fotógrafo, pelos seus próprios valores éticos, pela sua noção de valor estético mas sobretudo pela influências (mais ou menos declaradas) que sofreu e que sofre o seu trabalho. Nenhum trabalho nem nenhum fotógrafo é estanque e o resultado do seu trabalho é tão perméavel a influências externas – muitas vezes inconscientes mas que de qulaquer forma estão lá – como qualquer acto da sua vida. Assim o resultado final é apenas tão inovador ou conservador quanto os valores que o fotógrafo deseja incutir no seu próprio trabalho e é o resultado de inúmeras opções, decisões e influências e sobretudo da capacidade de o fotógrafo assumir o risco de quebrar alguns padrões.
O belo, a paisagem grandiosa, o esteticamente belo fazem parte do legado da fotografia de natureza e é o padrão pelo qual muita da produção actual desse tipo de fotografia é medido; nada há a opôr à produção nesses moldes. Aliás há grande fotografia a ser produzida segundo esses mesmos moldes. Mas talvez a questão aqui seja o confronto entre uma visão contemplativa e uma visão questionadora, uma e outra são diametralmente opostas nas suas construções e objectivos.
A primeira propõe-se a construír uma visão esteticamente apelativa – com toda a subjectividade que o conceito estético traz atrás – ou idílica como o Daniel lhe chama, mas que ao mesmo tempo retira do campo de acção as intervenções de carácter humano (permanentes ou não). Ou seja cria um apelo à conservação pela estética sem no entanto questionar as razões pelas quais cria esse apelo. A segunda questiona a intervenção nos espaços naturais, a maneira mais ou menos subtil como tal é feito e a forma como percepcionamos essas intervenções como algo natural ou não. A diferença fundamental não será certamente e exclusivamente estética – a forma como o fotógrafo cria as suas obras visuais – mas sim na forma como cria interrogações e nos questiona sobre o que é hoje a natureza. Uma emociona a outra incomoda.
Sobretudo porque hoje a nossa capacidade de intervenção na natureza é extraordinariamente mais forte do que à décadas atrás mas também porque a forma como intervimos tem efeitos mais destrutivos mas especialmente porque enfrentamos uma época em que olhar para a beleza por si só já não basta, são necessárias acções a nível da criação fotográfica mais interventivas e pró-activas de forma a lidar com a realidade dos nossos tempos. Aliás são hoje mais necessárias do que nunca, mais do que a a beleza do discurso é necessária a força do documento, a brutal chamada à realidade de um discurso agreste que nos atire à cara a consequência dos nossos actos. E isso nem sempre é fácil nem bonito de se ver.