Posts Tagged ‘monografias

09
Maio
11

Solitude


Hoje escrevo sobre um livro onde tenho uma participação especial, em que fui convidado pelo fotógrafo (amador) o médico-anestesista Dr. Manuel Coelho para fazer a selecção das fotografias e para escrever o texto de apresentação do projecto. Mas é interessante saber como é que chego ao projecto e a razão pela qual aceitei participar no mesmo.

Recentemente escrevi um artigo onde descrevo o meu interesse por fotógrafos que trabalhem em projectos e séries, isso tem uma razão que podem descobrir lendo o artigo referido, por isso quando me pediram a minha opinião sobre as fotografias que compõem este projecto fiquei um pouco surpreendido. Foi pedida a minha opinião formada como autor deste blogue e como comissário e dada aproximidade que nos une isso é sempre complicado mas aceitei de bom grado.
Logo ao primeiro olhar o que me chamou à atenção foi a coerência estética e de composição nas fotografias, isso “saltou-me” de imediato, e segundo surpreendeu-me o ambiente retratado, com uma solidão e melancolia muito marcada e gostei bastante do conjunto.

Agora chegamos ao livro, editado no Blurb, intitulado Solitude para o qual colaborei na selecção final das fotografias e com o texto de apresentação.
Eis uma imagem da selecção:

Os corredores austeros, brancos, imaculados, são um repositório de silêncio, indiferentes ao inexorável passar das horas assistem a tudo mas ao mesmo tempo não são testemunhas de nada. No silêncio das horas a solidão é um grito de testemunho contra a indiferença, contra o correr dos ponteiros que se dirigem ao
final de mais um dia e muitas vezes ao final de uma vida. A solidão é assim um reduto, um acto de tentar transcender o inevitável e o esquecimento, é também um acto de auto-preservação – uma protecção se assim lhe quiserem chamar – do profissional, uma forma de lidar com o mundo à sua volta.
Assim nos longos períodos entre doentes estas fotografias foram surgindo como um testemunho da melancolia e da solidão do acto de salvar o próximo sem nos deixarmos contagiar pela desolação de uma cama vazia, pelo silêncio das paredes brancas. Na solitude profunda das noites e dias a fotografia surge assim como um elemento redentor, um suporte que agarra o fotógrafo à realidade mas que funciona como um escape à mesma. Estas fotografias transcendem a realidade, transfiguram-na e surgem como um olhar íntimo sobre o próprio fotógrafo; são assim um espelho através do qual vemos o reflexo do artista e o seu retrato mais intimista.

De facto este projecto captou-me a atenção desde o dia em que vi algumas das fotografias que o compõem, a solidão marcada (ou solitude), a coerência estética fazem dele um projecto que mereceu a minha atenção e a qualidade global, mais do que a proximidade, interessou-me sobremaneira. É impossível escapar a um facto que marca este projecto: ele não existiria sem um smartphone (neste caso um Apple iPhone 3Gs), é um sinal dos tempos (fotográficos) a que não podemos escapar.

Solitude é uma visão íntima sobre os bastidores dos hospitais, um olhar sobre o exercício solitário da medicina mas sobretudo sobre a solidão sentida e procurada por Manuel Coelho, revelada de forma desarmante e sincera. É um conjunto de imagens que não descura a estética e a coerência mas que também não tem medo de se expor e de revelar o mais íntimo dos seus pensamentos, dos seus medos e de os mostrar e enfrentar. São fotografias que me surpreenderam sobretudo pela forma que assumem essa revelação e sinceridade, são fotografias sombrias é certo mas também é o tom procurado, afinal todos nós temos o direito à solidão. Gosto também do silêncio que deriva do ambiente de solidão e melancolia, eu não diria de tristeza mas de uma certa instrospecção, quase de meditação e isso sobressai neste conjunto.
Globalmente é um projecto muito interessante, coerente, executado com intenção e talento, que me marcou muito – eu que gosto muito da solidão – e para o qual contribuí em face dessas características, caso contrário não o teria feito. Para primeiro projecto é algo de extraordinário.

Nota: dada a minha proximidade com o projecto assumi que não deveria dar rating ao livro, apenas por essa razão. De qualquer forma deixo-vos um vídeo onde podem desfolhar o livro…

02
Maio
10

Livros

Reconheço que estou bastante atraso à crítica de livros de fotografia e monografias, no entanto estou à procura da maneira ideal de o fazer por isso talvez ainda não vai ser de imediato que as coisas entram nos eixos rapidamente. Gostaria também de agradecer às pessoas que têm feito compras na minha loja da Amazon o que me permitiu receber um vale que reverteu para novas aquisições de monografias, por isso a todos que o fizeram o meu obrigado.

23
Nov
09

Novidades do Japão…

Foi uma semana intensa mas foi pelo correio chegou aquilo que me ocupou os dias: uma nova encomenda da Japan Exposures. Foi remetida no sábado dia 14 e na quarta-feira seguinte estava cá.
Reconheço o meu ainda profundo desconhecimento sobre os fotógrafos japoneses e sobretudo das suas monografias, de facto não sabia o que estava a perder; pegar num livro japonês é de facto uma experiência importante para perceber os livros de fotografia. Nesse campo os japoneses estiveram durante muito tempo, e talvez ainda estejam, mais avançados em termos de design e organização em relação aos fotógrafos ocidentais. Os japoneses pensam no livro como um todo e as fotografias são escolhidas em função do conjunto e não em função de cada imagem, uma monografia japonesa deve ser analisada no global. Mas vamos ver algumas das escolhas que fiz:

Dragonfly – Koji Onaka
Este livro interessou-me bastante pelo uso da cor e pelo facto de estar assinado; de facto o último livro de Koji Onaka (e que faz parte de um conjunto onde se integra também este livro) esgotou e está bastante valorizado no mercado de usados.
A cor bastante garrida e por vezes sombria é usada para mostrar um Japão suburbano e industrializado, caótico e desorganizado.

Slowly down the river – Yasuhiro Ogawa
Yasuhiro Ogawa percorreu toda a zona da construção da barragem das três gargantas na China durante um longo período e captou a desolação e tristeza dos milhares de habitantes que foram desalojados para dar lugar a uma das maiores albufeiras do mundo. É um livro a cores que a usa como símbolo dos sentimentos dos retratados com excelente composição e uma história bem contada. Muito bom e altamente recomendado.

Tokyo aruki – by Nobuyoshi Araki
Um pequeno livro do Araki, uma deambulação pelas ruas de Tóquio e que tem a particularidade de mostrar a cidade pelos olhos deste mestre da fotografia japonesa de uma forma descomprometida e alegre ao longo de várias séries. De salientar que no final do livro – os textos infelizmente estão apenas em japonês – estão alguns mapas das zonas onde Araki andou a fotografar e onde estão assinalados os percursos efectuados pelo fotógrafo em cada série.

Zokushin – Hiromi Tsuchida
Reedição do clássico da década de 70, revisto, acrescentado de mais algumas fotografias em relação ao original e assinado pelo autor.
Fotografia a preto&branco, neste livro o fotógrafo retrata um Japão tradicional em vias de se perder no boom económico e político de abertura ao ocidente dos anos 60 e 70. Muito bom.

Nippon Gekijou 1965-1970 + Nanika e no tabi, 1971-1974 – Daido Moriyama
Estes dois livros recolhem a obra de Moriyama efectuado para revistas nas datas assinalados nos respectivos volumes. Aqui está Moriyama na sua máxima criatividade e é absolutamente imprescindível para contextualizar e estudar este famoso fotógrafo japonês. Vai ao pormenor de incluir alguns anúncios de época e de manter a paginação original.

13
Out
09

Sally Mann – Proud flesh.

SMannApós vários atrasos e adiamentos eis que a Aperture conseguiu finalmente editar o livro ‘Proud Flesh‘ da Sally Mann. Há já vários meses que estava pré-encomendado na Amazon Uk e finalmente hoje recebi o tão desejado pacote contendo o livro. Sem me alongar muito na análise ao conteúdo, aliás porque acabo apenas agora de lhe retirar a protecção de celofane, posso apenas afirmar que as imagens do livro são subtis mas ao mesmo tempo fortes, são – no habitual registo familiar que Sally Mann nos acostumou – uma demonstração de afecto incondicional por um sujeito tão próximo a Sally Mann: a família e neste caso concreto o seu marido.

A técnica de colódio utilizada por Sally Mann, e que pode ser vista no sexto e último episódio da série ‘The Genius of Photography‘ é perfeitamente adequada ao tema e é muito bem utilizada pela fotógrafa. Quanto à edição estamos perante mais uma obra-prima da Aperture sem dúvida, capa dura forrada a tecido com a fotografia que ilustra a capa impressa em papel grosso e com uma excelente qualidade de impressão, bem como todo o grafismo e design do livro.

Será o meu livro de cabeceira durante umas semanas e espero ter uma análise pronta dentro em breve para publicar aqui.

24
Set
09

Notícias curtas e pequenos flashes…

De férias no Sudoeste Alentejano e já quase a regressar a casa e ao trabalho começo já a fazer um pequeno apanhado de assuntos pendentes e que vão merecer a minha atenção nos próximos tempos:

Reclamação junto dos CTT
Sobre este assunto duas notícias, uma boa e outra má. Primeiro a má, os CTT decidiram a favor dos próprios serviços nesta reclamação, segundo o responsável pela análise e reposta à minha reclamação se a embalagem não aguenta o manuseamento dos CTT então cabe à empresa que envia a embalagem de a reforçar. Como os CTT conseguiram dobrar um cartão que não é facilmente dobrado então é melhor a 20×200 começar a pensar em enviar as fotografias para Portugal em embalagens de metal…
A boa: a 20×200 reconheceu que a sua embalagem não era de facto à prova de estupidez postal e decidiu não só reforçar as mesmas mas também substituir a fotografia que ficou inutilizada. Ora aqui está uma empresa que vai continuar a receber a minha preferência.

Japan Exposures
Chegaram os livros que encomendei do Japão e estava com algum receio de que os mesmos tivessem o mesmo tratamento da fotografia da 20×200, enganei-me. Os autores do sítio não brincam em serviço e recorrem à EMS para fazer o serviço total desde o envio de Tóquio até Portugal, procedem ao desalfandegamento e entrega; nada é deixado ao acaso. E ainda por cima demoram cerca de cinco dias e podemos seguir a viagem da embalagem desde Tóquio até à alfândega. Mais um (pequeno) negócio que me merece a minha preferência.
Um dos livros que comprei, ‘Northern’ do Daido Moriyama, já esgotou e não vai ser reeditado, ainda consegui a minha cópia a tempo e assinada pelo autor. No sítio ainda é possível comprar as últimas cópias, estas infelizmente já não estão assinadas.

A exposição do Fernando Guerra
A inauguração correu muito bem (como podem ler no blogue da galeria – parte I e parte II) mas foi trabalho duro e árduo. Espero que a próxima corra tão bem como esta. Do feedback que tenho recebido a recepção à exposição e à galeria tem sido francamente boa, o que é óptimo e é o reconhecimento do valor deste projecto e do esforço que a Colorfoto colocou no mesmo.

Maps e The solitude of Ravens.
Já estão na minha posse estas duas raridades da fotografia japonesa e que espero analisar e criticar em breve. Maps é um dos livros mais importantes da fotografia japonesa pós segunda guerra mundial, The Solitude of Ravens tem por trás não só um projecto conceptual arrojado mas que ao mesmo tempo está intimamente ligado à vida pessoal do autor. Mais em breve.

Livro ‘Entre Reportagens’
O Fernando Guerra decidiu editar um pequeno livro com a totalidade das imagens que compõem este seu trabalho, são cerca de 90 fotografias no total e tem os textos da exposição, um da minha autoria e outra da autoria do Daniel Carrapa. Tem uma edição limitada e pode ser adquirido nas lojas Colorfoto. Não se descuidem porque vai esgotar.

08
Set
09

America – Zoe Strauss.

americaAmerica de Zoe Strauss
Hardcover, 304 pg
AMMO Books LLC (2008)
ISBN: 9781934429136

Depois de ‘The Americans’ e ‘América furtivamente’, de Robert Frank e Henri Cartier-Bresson respectivamente, ainda é possível captar o intímo da América?
Desde sempre a América enquanto sonho colectivo foi tema de várias monografias, desde Frank a Soth, a fotografia sempre gostou do american way of life mas fora das luzes da ribalta existe uma zona de território rural e interior para quem o american dream se tornou num pesadelo. E nos dias de hoje nem precisa de ser rural e pode muito bem uma periferia urbana, longe do centro da cidade, com uma população pobre, sem educação e excluída.
É esta a America de Zoe Strauss, a antítese do sonho americano, que nos é apresentada neste trabalho.

Técnicamente é um trabalho low-tech, efectuado ao sabor de um road map aleatório, com máquinas baratas e de baixo orçamento. A qualidade do livro está de acordo com o método de captação de imagem, longe portanto das impressões luxuosas mas mesmo assim não deixa de ser um livro com uma impressão razoável e dimensão adequada não muito longe do A4, maior teria sido impossível dadas as limitações de captura com câmaras compactas e SLR digitais de gama baixa (Nikon D70 por exemplo).

Mas onde o livro nos agarra é nas imagens sobretudo pela relação que Zoe Strauss consegue construír em breves instantes com os retratados; é precisamente por aí que as ‘defesas’ que cada um tem ao ser abordado para ser fotografado caem, deixando assim livre o caminho para uma fotografia que consegue transmitir algo tão intangível como o profundo sentimento por trás de um olhar. E de facto o retrato que Zoe Strauss capta da américa é o retrato do desalento e abandono, miséria e resistência de uma faixa populacional que vive nas franjas da sociedade. Não é um livro fácil portanto porque é crú o suficiente para ser directo e sem rodeios nem tentativas de embelezar nem julgar; o livro acaba por ser um despertar para a realidade através de um balde de água fria e um murro no estômago.

zs© Zoe Strauss
É difícil ver numa imagem deste tamanho mas a cara de desespero da jovem e o quase total alheamento da mãe fazem desta foto uma das minhas favoritas, a mãe provavelmente já desistiu de sonhar e limita-se a viver o que a vida lhe dá, a filha por outro ainda não desistiu de lutar mas talvez tenha percebido que o destino da mãe lhe está igualmente traçado. A mãe magra, com sinais de uma dependência qualquer, luta para se manter viva, a filha assiste a tudo como se fosse um filme e que depressa sairá da sala para viver o sonho que lhe está destinado. Que não irá acontecer por certo…

zs2© Zoe Strauss
Outra das minhas favoritas que cresce a cada passagem no livro. O olhar do jovem da esquerda um misto de força e de resignação ainda lhe imprime um certo alento, uma vontade de resistir mas o homem da direita olha desanimado para um boletim de lotaria como se a última esperança de vencer acabasse de se desvanecer nas suas mãos e à frente dos seus olhos.

O livro em grande parte está organizado nestes pares de fotografias onde uma complementa a outra, num dialogo de intenções que nos obriga a ler as ‘entrelinhas’ das imagens, a estar atentos mas sobretudo que nos desarma completamente face à sua brutal frontalidade com que nos apresenta essas imagens. Zoe Strauss consegue o feito de fazer dos seus retratados pequenos heróis numa demanda por um sonho que teima em lhes fugir. É talvez a relação que Strauss constroi com os seus retratados que torna este trabalho tão singular, essa relação fugaz mas intensa que permite a Strauss conviver com essas pessoas, viver os seus dramas e contar as suas histórias.
Strauss permeia os seus retratos com o registo de um conjunto de sinais, reais e subentendidos, em estado de degradação visível onde o que resta são apenas as marcas da passagem do tempo. Vestígios de frases, sinais destruídos, tudo é aproveitado para manter o tom geral do livro em complemento, bem conseguido por sinal, às histórias que as personagens vão desfilando nos seus retratos.

Este conjunto poderia ser apenas mais uma reportagem, assim é um livro comprometido, politicamente incisivo e incorrecto, verdadeiro e genial. Com as suas fotografias de excelente composição mas sobretudo pelo contexto da sua obra, em plena administração Bush, America é um grito de alerta por um país que se desintegrava perante os olhos incrédulos dos próprios americanos. America é a crise antes da crise, uma ode negra e poética à falência do sonho americano.

Loja
Se desejarem podem comprar este livro através da loja Amazon do O Elogio da Sombra, obrigado.

03
Jan
09

2008 – livro do ano.

rf004Poucos livros terão tido uma influência na fotografia de reportagem como ‘the americans’ de Robert Frank. Um clássico que chega a 2008 já com 50 anos de vida e é precisamente esta edição que comprei, é um livro difícil de encontrar mas encontra-se bem na Amazon e em algumas livrarias em Portugal, onde segundo sei não esgotou. The Americans é um retrato crú dos EUA, por vezes eufórico por vezes deprimido mas não deixa de ser um olhar lúcido sobre as entranhas de um país em construção, à deriva no seu próprio sonho. No global é um grande livro, uma espécie de poema visual que deve obrigatoriamente figurar na estante de qualquer apreciador de fotografia.
Definitivamente o livro do ano.




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[larga variedade de livros de e sobre fotografia. se comprar via este link recebo uma pequena percentagem.]

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